Talvez eu tenha tido sorte no fim das contas. Eu dou risada por me achar patética por esperar ter sorte usando uma calcinha verde no ano novo. Mas, como disse, talvez eu tenha tido sorte mesmo. Porque na realidade, a gente espera meio sem muita esperança, porque é tradição e queremos acreditar que funciona. A verdade é: não existe superstição que realize coisas que só pondo as mãos na massa você consegue fazer.
Em 2013 atirei no escuro e pensei ter me encontrado em Relações Públicas, no fim, vi que não era nada disso. Em janeiro de 2014 vi que nunca estive tão errada na minha vida. Tive sorte sim: segundas chances apareceram e me mostraram que nem tudo estava perdido. Por um lado, é realmente desanimador começar tudo do zero, mas por outro, é ótimo poder recomeçar. Em fevereiro quis acreditar que meu futuro estava em Marketing, e em março, tive certeza que esse não era o caminho que eu deveria seguir. Março e Abril foi o que eu tive de tempo para me conhecer, me descobrir e me decidir, porém, como de praxe, priorizei o ócio e depositei minhas esperanças no cursinho, que comecei em maio. Quando achei que não poderia me perder mais, reapareceu aquele leque de opções que deu um nó na minha cabeça. Em junho, tinha certeza que queria cursar Relações Internacionais, e, depois que prestei o vestibular e não passei, senti que aquilo não era pra ser, porque não era pra mim. Eu estava meio desolada com todo esse não-saber-pra-onde-ir e meio que desisti das aulas. Consigo contar quantas vezes fui nessas aulas que seguiram, mas me perderia se fosse pra contar quantas vezes desviei do caminho do cursinho e fiquei divagando pelas manhãs paulistanas. Nascida e criada em São Paulo, fiz de mim turista e não tive vergonha disso. Me afundei na cultura da cidade e acho que foi a coisa mais legal que fiz para me descobrir. Previsivelmente, meu primeiro destino foi a Avenida Paulista, que era pertinho de onde eu fazia aula. Não deixei de ir ao Itaú Cultura, Casa das Rosas e nem ao Conjunto Nacional e Livraria Cultura. Fui em mais exposições nesse ano do que em todos os meus vinte anos de vida. Foi tão bom. O peso que isso faz na bagagem da vida é um que definitivamente não me importo de carregar. Aos poucos perdi o medo e me via andando da Ana Rosa até a Liberdade, Sé, República, Anhangabaú. Acompanhei o que passava nos jornais sobre o MSTS pelos meus próprios olhos ao invés de acompanhar pela mídia. Cada pessoa tem sua história, e mesmo que não conhecemos todas elas, é bom fazer parte mesmo que seja através de um olhar, e ter a capacidade de entender que a complexidade dos problemas e histórias vão muito além da nossa compreensão. E talvez tudo isso seja meio difícil de digerir, mas a vida é como ela é, e as histórias são como são por um motivo. Passamos tanto tempo procurando por um propósito - eu mesma já perdi tanto tempo nisso - e hoje acredito que nosso propósito é o que fazemos da nossa vida e como escrevemos e contamos nossas histórias. Todas essas descobertas que fiz através de cabular aulas, coisa que não conto com orgulho, mas que absolutamente não me arrependo, me abriu os olhos e me mostrou como o mundo é grande. Drummond também me fez entender: sou muito menor. Mas faço parte, não é pelo meu tamanho que dito minha importância, é pelo que podemos representar e fazer, isso sim. Então, no fim das contas, acredito que sim, eu tive sorte. A calcinha verde na virada fazendo parte ou não. Cada coisa que eu li, aprendi e absorvi foi com certeza também expelida de volta para o universo. Nada disso é para sempre, e fazemos essa troca com o ambiente em que estamos inseridos para que tudo que vem permaneça pelo menos um pouco mais do que nós nesse mundo. Hoje, 24 de dezembro de 2014, só cheguei aqui, na segunda fase de uma das melhores universidades de São Paulo não é por acaso, e agora eu tenho certeza que meu coração pertence à comunicação e sempre pertenceu. Na verdade eu sempre soube e nunca coloquei muita fé. O que valeu foi o caminho que percorri e me trouxe até aqui, e o que vem depois de hoje: um novo caminho e novas descobertas.
Que em 2015 façamos mais descobertas sobre esse mundo grande e o ''eu'' que não precisa ser tão pequeno assim. À sorte, se é que ela existe, e se sim, que permaneça. Às segundas chances, porque sem elas talvez não estivéssemos aqui. Por fim, ao Universo, que nos permite estar inseridos nele por um tempo, e que esse tempo seja maravilhoso.