
Nesse momento os cômodos apresentam-se numa cor degradê de nostalgia, bem retro. Há cheiro de cigarro por toda parte, toalhas úmidas apoiadas no encosto das cadeiras. O reflexo de um lindo pôr-do-sol atravessa o eixo de luz entre as persianas semifechadas. Agora um cheiro de café, com uma mistura de bolo quente e de trilha sonora desse momento quase perfeito, um solo de sax. Nada mais lindo poderia estar acontecendo agora. Ali no canto da minha mobília tem um vaso de flores com pétalas de cor quente, dando um contraste lindo com a brecha de luz do sol que se põe. Logo ao lado, algumas cartas antigas, com o pé da página um pouco amassado, devido ao lugar desaconchegante em que as depositei um tempo atrás. Meus cabelos estão presos, entrelaçados num coque desajeitado, que se desfaz despercebidamente. Meus lábios, num tom de vermelho parecido com o das pétalas, meio apagado, desgastou-se. Olhando fixamente o sol que se despede, tateio minha mesa na busca cega de um cinzeiro. Encontrei-o e posicionei-o a minha frente. Depositei meu cigarro com marca de batom e observei a fumaça que subia, como um filete, e depois se espalhava pelo ar. Tornei a pô-lo em minha boca quase seca e levantei-me para pegar uma xícara de café quente e puro. Molhei os lábios e abracei a xícara com as mãos, na intenção de aquecê-las. Volto ao meu posto de observadora na minha velha poltrona na sala de estar, que hoje, especificamente está incrivelmente mais aconchegante do que nunca. Eu nunca havia sentido nada assim ao decorrer de um ano e meio, desde minha mudança. Hoje, especificamente, eu não preciso de mais nada além do meu cigarro com marcas de batom e do meu café puro e extremamente quente. Mas bem que alguém para me acompanhar nesse embalo nostálgico e compartilhar um abraço sincero, não seria nada mal.